Em webinário, pesquisador francês Bernard Charlot apresenta o mundo como “nossa escola”

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Encontro online, realizado na tarde desta quarta-feira (20/03), está disponível no canal da Secretaria de Educação, Ciência e Tecnologia de Hortolândia no Youtube

Mais de 600 pessoas acompanharam ao vivo, na tarde desta quarta-feira (20/03), o webinário formativo sobre a “Relação com o saber – uma perspectiva pedagógica para a sociedade contemporânea”, promovido pela Prefeitura de Hortolândia. Voltada a profissionais da educação que atuam no município, a formação da série “Integra Saberes” aconteceu em formato de entrevista com o Prof. Dr. Bernard Charlot, autor e pesquisador francês radicado no nordeste brasileiro. O debate foi conduzido pelo Prof. Dr. Flávio Caetano da Silva, do Departamento de Educação da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), em conjunto com a Prof.ª Maria Cecília Luiz, pesquisadora da mesma instituição pública de ensino superior, com a qual a Administração Municipal mantém Acordo de Cooperação, na área da educação. 

O evento está disponível no canal da Secretaria de Educação, Ciência e Tecnologia no Youtube. De acordo com a Pasta, o encontro buscou estabelecer um diálogo com o autor da teoria da relação com o saber, que embasa todo o projeto Escola-Outra, realizado em escolas municipais de Hortolândia. O conceito propõe mudanças na educação, considerando a criança como ser ativo no processo de aprendizagem, ao tratar as experiências e vivências dos pequeninos como parte fundamental dessa mudança. Estudioso desta teoria, o Prof. Flávio Caetano da Silva é o idealizador e coordenador do projeto Escola-Outra no município.

O humano como prioridade e o mundo como escola

Durante a entrevista, Charlot enfatizou a necessidade de priorizar o papel humano na educação, fazendo um contraponto à visão reducionista que o enxerga apenas como uma interseção de redes computacionais e tecnológicas. O autor enfocou os desafios enfrentados pela educação contemporânea, destacando a invasão de discursos que promovem a representação simplificada do ser humano. Para o pesquisador, a tecnologia e as plataformas de informação são soluções incompletas para os problemas educacionais atuais. Segundo ele, é crucial uma abordagem pedagógica que considere o significado e a centralidade do ser humano na história atual. Além disso, Charlot falou sobre as limitações do ensino, sugerindo a necessidade de repensar a importância das relações humanas na educação, em vez de depender exclusivamente de métodos baseados em tecnologia.

“Na pedagogia das novas abordagens, é crucial entender que grandes discursos sobre como o aluno vai aprender sozinho, sem a necessidade de uma aula, não é bom. É essencial compreender o mundo para nos humanizarmos. O mundo é a fonte de sabedoria sobre o que significa ser humano. Olhar apenas para o indivíduo humano é insuficiente. O mundo, com toda a sua complexidade e história, nos diz o que é ser humano. Nenhuma outra espécie, além da humana, construiu um mundo tão rico e complexo. É ao tentar compreender esse mundo humano que podemos verdadeiramente entender o que é ser humano. Ao longo de milhões de anos, desde a divergência entre humanos e chimpanzés, o mundo tem sido a sedimentação de todas as ideias, emoções, aventuras e acontecimentos que moldaram nossa humanidade”,  explica Charlot.

Segundo o autor, é por meio deste entendimento do mundo humano que se pode apreciar a beleza, enfrentar os desafios e aprender com as gerações passadas, vendo o mundo como “nossa escola”, na qual “extraímos a verdadeira essência do que significa ser humano”. 

Ao ser questionado sobre o conceito da Escola-Outra, surgido no período pandêmico, e as transformações necessárias no contexto educacional atual, Charlot enfatizou a importância dos profissionais da educação. Destacou a complexidade inerente à mudança na escola, ressaltando a necessidade de abordar tanto questões sociopolíticas quanto práticas no ambiente educacional. Para ele, o anseio de mudança precisa envolver toda a comunidade escolar, o que “implica em uma luta para reformar a escola, buscando implementar práticas pedagógicas contemporâneas que atendam às necessidades dos estudantes. Isso requer um esforço conjunto para superar ideologias arraigadas e garantir que a escola atenda verdadeiramente às demandas da sociedade. É necessário um esforço conjunto e coordenado, envolvendo forças sociais que apoiem a transformação. Isso implica em mobilizar uma ampla base de apoio, incluindo professores, alunos, pais e comunidades”.

Outro aspecto positivo, nessa transformação, é o papel dos professores. “Não se trata apenas de reproduzir práticas de gurus do passado, mas sim de capacitar os mais de dois milhões de professores em exercício para desempenhar um papel significativo na transformação da escola. Essa transformação requer uma abordagem pedagógica fundamentada no estímulo à atividade intelectual dos alunos, proporcionando-lhes sentido e prazer no processo de aprendizagem”, afirma o pesquisador.

Série “Integra Saberes”

De acordo com o CFPE (Centro de Formação dos Profissionais em Educação) “Paulo Freire”, responsável pela organização do webinário, o objetivo da série Integra Saberes é promover a formação continuada dos professores e profissionais da Secretaria, bem como levar os participantes a refletir sobre o tema, potencializando reflexões e discussões de relevância social e pedagógica, a partir de conteúdos que constituem o Currículo Municipal “Integra Saberes”.

A medida beneficia diretamente mais de 26 mil alunos matriculados na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e na EJA (Educação de Jovens e Adultos) e integra a atual proposta da Secretaria de Educação, Ciência e Tecnologia, que tem como lema “Hortolândia, território de saberes: a educação como conceito de integralidade”.

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    – Fonte: Prefeitura de Hortolândia.